Uma dependência bem vinda


SÉRIE REVISTA ULTIMATO
Artigo: “Ó Jesus, entra em cena!”, de Élben César

Texto básico: Mateus 15. 21-28

Textos de apoio
– Deuteronômio 10. 12-21.– Salmo 142.– Jeremias 17. 5-14– Mateus 11. 28-30– Lucas 17. 11-19
– Hebreus 7. 21-28

Introdução
Reconhecer minha impotência diante das contingências da vida pode ser difícil, mas é inevitável. Mais cedo ou mais tarde todos nós chegaremos a esse reconhecimento, pois a encruzilhada que determina nossa escolha entre prepotência e impotência pode estar escondida logo depois da próxima “curva da vida”.

O sentimento de impotência, que num primeiro momento pode parecer desesperador, logo poderá descortinar-se para uma nova possibilidade – a dependência de Alguém maior que minhas necessidades e problemas.

A dependência de Deus é menos um lugar onde se chega do que um exercício ao qual somos convidados diariamente. E o exercício vai nos deixando cada vez mais alertas para os arroubos de independência que buscam se instalar constantemente em nosso coração. Neste estudo vamos refletir sobre o encontro de Jesus com uma mulher que buscou exercitar sua dependência diante de uma situação totalmente fora de seu controle. O que será que esta mulher, quem nem pertencia ao povo de Israel, pode nos ensinar sobre renúncia, humildade, confiança e, finalmente, dependência de Deus?

Para entender o que a Bíblia fala
A primeira reação de Jesus, diante do pedido desesperado daquela mãe cananéia, foi o silêncio (vv. 21-23a). Por que você acha que ele teve essa reação? Falta de compaixão? Dificuldade de se relacionar com uma mulher não judia? Ou outra coisa?
E os discípulos de Jesus? Por que pediram que Jesus a mandasse embora (v. 23b)? Jesus atendeu a solicitação deles?
No v. 24 Jesus rompe seu silêncio, mas reforça sua vocação primária como Messias de Israel, o povo escolhido de Deus. De certo modo a própria mulher tinha reconhecido isso, ao chamá-lo pelo título messiânico de “filho de Davi” (v. 22). Como ser humano, certamente Jesus possuía limitações de agenda e de tempo, o que tornava impossível atender todas as necessidades, por mais justas que fossem. Mas, por que a mulher não desistiu? A reação dela no v. 25 revela algo sobre o seu entendimento acerca da identidade de Jesus, mesmo pertencendo a um contexto gentílico?
Jesus responde ao piedoso clamor daquela cananéia lançando mão de um ditado já conhecido naquela época (v. 26). Podemos supor, com razão, uma abordagem gentil da parte de Jesus, destacada pela utilização da forma diminutiva, o que atenuava o desdém embutido neste ditado. De fato, aos olhos dos judeus, os gentios não passavam de cães. Por que a resposta da mulher é surpreendente (v. 27)? Perceba que ela não discute o mérito em questão. O que ela estava assumindo ao concordar com Jesus?
Qual foi o resultado da fé e da humildade daquela mulher (v. 28)? Se você fosse um dos discípulos presentes naquela ocasião, o que teria aprendido com esta mulher?
Hora de Avançar
“Ó Jesus, entra em cena!”. Não há oração mais apropriada quando chegamos à conclusão de que todos os nossos recursos foram esgotados e nada mais podemos fazer. A súplica é muito certa e direta. Em apenas cinco palavras dizemos tudo.[…] A oração “Ó Jesus, entra em cena!” não é mantra, não é mentalização, não é uma peça de pensamento positivo, não tem nada a ver com autoajuda. Não são palavras mágicas para se obter algum livramento. Antes é uma honesta confissão de impotência e de desespero. Um pedido de socorro.
(Élben César, nosso saudoso “Reve”)

Para pensar
No seu discurso em Mateus 11, especificamente no v. 21, Jesus parece deixar implícito um princípio segundo o qual as cidades pagãs de Tito e Sidom não seriam lugares propícios para as suas obras messiânicas. Talvez por isso, em coerência com este princípio geral, Mateus tenha registrado que a mulher vivia naquela região, mas “veio até ele” (v. 22), pretendendo mostrar que a mulher estava fora de sua terra natal.

Mas o que devemos sempre manter em foco é que a maravilhosa compaixão sempre ultrapassa qualquer barreira, de qualquer natureza. Deus não resiste a um coração contrito e humilde (Salmo 51. 17).

O que disseram
O grito “Senhor, tem misericórdia” deve provir de um coração contrito. Em contraste com um coração endurecido, o coração contrito é aquele que não acusa, mas reconhece sua parte na pecaminosidade do mundo. E, com isso, se prepara para receber a misericórdia de Deus.
(Henri Nouwen)  

Para responder
Como você costuma reagir diante do aparente silêncio de Deus? Com perseverança ou com desânimo? O que você pode aprender com as atitudes da mulher cananéia de nosso estudo?
Quando você ora, pedindo algo a Deus, sua atenção é dirigida mais às “doações” do que ao “Doador”? Como a oração pode se tornar um meio mais fecundo de relacionamento com Aquele que pode, ou não, satisfazer suas necessidades?
Eu e Deus
Senhor, tem misericórdia. Tem misericórdia das minhas trevas, minha fraqueza e confusão. Tem misericórdia da minha infidelidade, minha covardia, meu andar em círculos, meu vaguear e evasões. Nada peço a não ser essa misericórdia, sempre, em tudo, misericórdia.[…] Eu não peço necessariamente claridade, um caminho plano, mas somente andar de acordo com o Teu amor, seguir Tua misericórdia e confiar na Tua misericórdia.
(Thomas Merton, Diálogos com o Silêncio, Fissus, 2003, p. 121)

Autor do estudo: Reinaldo Percinotto Júnior

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