O Pequeno do Xale Grande
(Adaptação de conto de J. Car)
O velho André era dono de uma pequena fortuna, que
juntara durante uma vida de trabalho e economia. Vivia numa pequena chácara e,
como era muito caridoso, repartia sempre o que possuía com os pobres.
Era seu costume dar roupas de seu uso aos pobres e
nunca se esquecia de pôr um dinheirinho nos bolsos. Diziam que ele mesmo
comprava roupas para dá-las aos maltrapilhos.
Certo dia, depois de uma chuva diluviana, o velho
André examinava os danos causados pelo temporal, quando enxergou atrás da cerca
de bambu um menino encharcado que dizia:
- Moço, moço! O senhor tem uma roupa velha para
mim? Mamãe me mandou levar ovos à quitanda e a chuva me apanhou no caminho.
- Hum! Hum! fez o velho André. - Você é muito
pequeno, mas, ainda assim, pode-se arranjar qualquer coisa. E levou-o para
dentro de casa. Pouco tempo depois o garoto saía com umas calças enormes,
enroladas nas pernas e com um xale capaz de cobrir o picadeiro de um circo! Ria
feliz e despedia-se agradecido.
O velho André seguia-o com o olhar e murmurou
baixinho: talvez...
A noite começava a envolver em trevas o caminho e a
casinha modesta, quando alguém bateu à porta. O velho André parou de tomar sua
sopa e foi atender. Era o garoto ainda envolvido pelo xale grande.
- Você por aqui?! interrogou o velho.
- É verdade, eu ainda - atalhou o menino,
estendendo a mão com o dinheiro. Encontrei num dos bolsos e vim trazer. O velho
André tomou o pequeno pela mão, olhou-o demoradamente e disse baixinho:
- Uma criança! Foi o único!
Era a primeira pessoa que vinha restituir o
dinheiro, que sempre colocava no bolso das roupas que dava. Não demorou muito
tempo e o velho André morreu. Abriram o seu testamento. Tinha legado todos os
seus bens ao "pequeno do xale grande", o mais grato, o mais honesto,
o mais digno!
Autor desconhecido
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