Fonte:
Cristianismo Hoje
A graça de
Deus, única solução para a morte e a maldade, vem sem custos, livre da lei,
livre dos esforços humanos para obtê-la.
Por Philip
Yancey
Ao ouvir os
discursos nos períodos de eleições, alguém pode sugerir que uma nova safra de
políticos resolverá os problemas que o país tem enfrentado. Uma vez eleito, o
candidato resolverá os problemas da educação, a crise na saúde, eliminará a
pobreza, ajustará a economia e unirá o país.
Para dois
problemas, entretanto, nenhum político ousa apresentar soluções: morte e
maldade. Endêmicos à condição humana, esses dois problemas nos acompanharão por
toda nossa vida. São exatamente esses os problemas que o evangelho de Cristo
promete solucionar – não através da política ou ciência, mas através de um
projeto que se iniciou no Gólgota.
Estudiosos da
Bíblia mostram que o capítulo 3 de Romanos é a mais compacta exposição das boas
novas. Antes de revelar a cura para aqueles dois males, Paulo detalha a
impotência da humanidade em achar solução por conta própria. Desse modo, ele
impressiona seus ouvintes com a gravidade da “doença” antes de apresentar sua
cura. Sou confrontado com as três categorias de pecadores apresentadas por
Paulo em Romanos 1 e 2. Ele começa descrevendo infratores flagrantes:
depravados, assassinos e inimigos de Deus (embora, curiosamente, ele também
mencione os pecados “de todo dia”, como ganância, fofoca, inveja e
desobediência aos pais).
Como seus
leitores eram cidadãos conscientes, presunçosos por sua superioridade moral
ante àqueles depravados, Paulo vira a mesa do jogo no capítulo 2: “Portanto, és
indesculpável, ó homem, quando julgas, quem quer que sejas; porque, no que
julgas a outro, a ti mesmo te condenas; pois praticas as próprias coisas que
condenas”.
Posso nunca
ter roubado um banco, mas será que eu já soneguei meus impostos? Ou será que eu
fiz alguma obra em minha casa sem que tivesse licença para fazê-la? Será que já
ignorei uma necessidade por causa de preguiça? Paulo segue a lógica de Jesus
apresentada no Sermão do Monte: Homicídio e adultério diferem de ódio e luxúria
apenas por uma questão de grau. Na verdade, a pessoa que comete um mal
flagrante tem uma vantagem peculiar: um giroscópio interno na consciência que
registra a sensação de estar fora de curso.
Certa vez,
aceitei participar de um programa de cristãos chamado de os 12 passos, como os
Alcoólicos Anônimos. Enquanto falava com os que ali estavam e ponderava acerca
do que ia dizer, eu finalmente decidi pelo irônico título: “porque às vezes eu
desejaria ser um Alcoólico”. Ocorreu-me que aquilo que os levava a
confessarem-se todos os dias – falhas pessoais, a necessidade diária de graça e
ajuda de amigos e de um poder maior – representa altos obstáculos para aqueles
de nós que se orgulham de sua independência e auto-suficiência.
Paulo
reservou seus comentários mais contundentes para uma terceira categoria de
homens, os portadores de justiça própria, que em seus dias eram, majoritariamente,
judeus que se orgulhavam por guardar estritamente a lei. Fariseu dos fariseus;
Paulo conhecia muito bem esse título, como atesta em uma de suas cartas. Ele se
refere aos depravados como “eles”, e aos bons cidadãos como “vocês”.
Entretanto, quando ele discursa sobre a justiça própria, ele usa a primeira
pessoa do plural. “Que se conclui? Temos nós qualquer vantagem? Não, de forma
nenhuma!”.
Nos seus
piores dias concernentes à justiça própria, Paulo perseguiu cristãos e esteve
presente no apedrejamento de Estêvão. Ele sabia dos perigos que acompanhavam
aqueles que se achavam moralmente superiores. Assim como a negação pode fazer
com que pessoas não procurem médicos por cause de um nódulo, pondo, assim,
vidas em risco, a negação do pecado pode conduzir a conseqüências ainda
maiores. A menos que aceitemos esse desolador diagnóstico, não encontraremos
cura.
A descrição
da confissão de Paulo sobre sua justiça própria me faz lembrar um incomum
esforço de M. Scott Peck para identificar uma nova desordem psíquica chamada
mal. Em seu livro “Povo da mentira”, Pack analisa os tipos de maldade e
conclui, como Paulo, que os piores deles são os mais sutis. Todos condenamos
abusos infantis – mas o que dizer sobre pais controladores e manipuladores que
trazem conseqüências devastadoras sobre suas crianças? Pack menciona uma
surpreendente característica da maldade: atitude de se esquivar; intolerância
com críticas; preocupação pública para com sua imagem e com sua
respeitabilidade; fraqueza intelectual.
Paulo
conclui: “Não há um justo; nem um sequer”. Talvez na passagem mais sombria de
toda a Bíblia, ele fez uma conjunta descrição anatômica deste problema, ao
dizer que eles têm: línguas enganadoras, gargantas como um sepulcro aberto,
lábios venenosos, pés violentos e olhos arrogantes (Rm 3.10-18). Todas essas
coisas estabelecem a magnífica apresentação do evangelho que começa em Romanos
3.21, a explicação da justificação pela fé somente que desencadeou a Reforma
Protestante.
A graça de
Deus, única solução para a morte e a maldade, vem sem custos, livre da lei,
livre dos esforços humanos para obtê-la. Para essa livre oferta, nós só
precisamos manter abertas as nossas pobres e necessitadas mãos – o gesto mais
difícil para alguém cheio de justiça própria.
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2008 por Christianity Today International

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