Eu não queria
continuar olhando, mas não conseguia parar.
Fonte: Cristianismo Hoje
Por Shaun
Groves
As últimas
brasas da fogueira já estavam quase apagadas. As etiquetas nas garrafas estavam
danificadas, depois de dias expostas ao sol. Os que haviam acampado perto de
minha barraca já estavam longe há algum tempo. Meu amigo e eu pegamos as coisas
que estavam para trás. Ficou apenas um CD de hip-hop. Tínhamos algumas malas e
garrafas vazias. Além de uma revista.
Sua capa
estava molhada e irreconhecível. Eu a abri com um pedaço de galho que encontrei
no chão. Havia orvalho naquele dia e as páginas da revista também estavam
molhadas. Naquele momento eu vi uma mulher. Ela estava com seus seios
descobertos.
Desde meus
sete anos tenho fugido. Quero dizer, meninas eram “problemáticas”. Elas eram
indesejáveis. Elas tinham alguma coisa que desejávamos, mas não sabíamos dizer
o que, já que nunca as alcançávamos. Eu ainda me lembro daquela cena. Eu estava
ao mesmo tempo empolgado e receoso. Eu não conseguia entender a razão, mas
sabia que ninguém deveria flagrar-me olhando aquela revista.
De uma coisa
eu sabia: eu queria mais.
Alguns anos
depois eu tive minha chance. Dessa vez eu não fugi. Eu tinha treze anos e
estava na casa do meu amigo Tyler (nome fictício). Ele era meu único amigo com
acesso à internet. Quase todos os dias nós jogávamos no computador por horas.
Certo dia, eu
cliquei em um ícone que pensei ser um jogo; tudo mudou em nossa vida. Não era
um jogo, mas um vídeo. Nossa primeira reação foi cair na gargalhada com as
lentas imagens daquelas mulheres. Era uma gargalhada do tipo “desligue isso; é
tão ridículo”. Contudo, nós não desligamos. Assistimos ao vídeo e, então, eu
fui para casa.
Tyler
continuou procurando por vídeos daquela natureza e me mostrou o que havia
encontrado. Dessa vez, eu não fugi. Eu não queria continuar olhando, mas eu
continuei. Eu estava hipnotizado.
Com o tempo,
ficar olhando, juntos, aquela nudez na internet causava em nós estranheza e
desconforto. Por isso, Tyler e eu preferimos nos dedicar ao pornô solo. Tyler
continuou a fazer download de tudo o que podia. Dos vídeos mais leves aos mais
pesados. Eu, àquela altura, estava dividido entre o prazer de ver aquelas cenas
e a culpa que carregava dentro de mim pelo que estava a fazer. Em alguns dias
eu estava forte, e resistia. Em outros, eu parecia um viciado em pornografia,
desesperado para achar uma imagem. Apesar disso, eu nunca comprei ou fiz
download de um filme pornô. Era um garoto nascido na igreja, em uma cidade
pequena. Todos me reconheceriam se fosse possível descobrir quem estava
comprando aqueles vídeos. Além disso, eu não tinha computador em casa. Ao invés
de comprar pornô, eu comecei a roubá-los.
Eu vasculhava
as casas de meus amigos para ver se os pais deles tinham alguma revista
Playboy. Quando não achava, eu as roubava de lojas de conveniência. Não muitas;
apenas três ou quatro em alguns anos. De qualquer jeito, eu fiz.
Página por
página eu ficava imaginando se aquilo poderia ser real para mim. Sei que é
constrangedor dizer isso, mas aquelas mulheres pareciam me fazer sentir amado.
Meus olhos desejavam aqueles corpos e faziam sentir-me um homem. Por um
momento, eu me senti desejado.
Eu me sentia
perto de alguém, e não me incomodava o fato de aquele alguém não ser real. Para
mim era muito real.
Entretanto,
aqueles momentos de plenitude passavam. Sempre. O prazer fracassava. Em pouco
tempo eu era tomado por um sentimento de remorso e culpa. Sentia-me a milhões
de quilômetros da bondade e a bilhões de anos luz de Deus. Eu sempre pensava
naquela primeira foto de mulher pelada que eu vi, na minha infância. Achava que
Deus estava com um bastão em sua mão, me punindo à distância e me mostrando que
não tínhamos nada em comum.
Sabia que
aquilo não era verdade. Eu era um cristão. Sabia que Deus me via perfeito e
amável, assim como via seu próprio Filho. Conhecia todas aquelas coisas. Amor.
Graça. Perdão.
Contudo, eu
não experimentava tais coisas em minha vida. Pior! Eu crescia cada vez mais
frustrado comigo mesmo. Eu havia prometido para mim mesmo que eu não me
incomodaria mais com aquilo, só para repetir meus erros.
Tyler não
estava nada melhor. Ele começou a achar impossível crer em um Deus que o
impediria de assistir seus vídeos pornôs. Sem Deus em sua mente, ele se
convenceu de que pornografia era apenas diversão. De que forma uma diversão
pode machucar alguém? Tendo decidido que não era ruim, ele resolveu que aquilo
seria algo útil para sua vida. Ele fez uma assinatura da revista Playboy e
começou a comprar todos os seus vídeos.
Perceber o
que estava acontecendo com o Tyler foi uma forma de me despertar. Eu sabia que
estava fadado ao mesmo destino. Por isso, pedi ajuda. Certo dia, estava
conversando com um amigo que é um bom cristão. Sem vergonha, disse tudo o que
estava acontecendo a ele. Disse que se pudesse assistir a um filme pornô de
graça, sem ser acusado por minha consciência, eu o faria. Pedi ajuda a ele e
nós oramos juntos.
Para minha
surpresa, meu amigo me disse que tinha o mesmo problema. Na verdade, a maioria
dos meus amigos tinha. Pedimos a uma pessoa mais velha de nossa igreja para se
encontrar conosco uma vez por semana e nos ajudar. Aquele homem não tinha
nenhuma sabedoria mágica ou força sobrenatural para nos ajudar contra a
pornografia. Contudo, ele nos ouviu, aconselhou e orou conosco. Ele se tornou
um cuidadoso mentor para todos nós. A primeira coisa que ele nos mostrou foi
que não estávamos sozinhos naquilo, não éramos os únicos a enfrentar aquele
problema e tampouco éramos loucos.
Quando me
encontrei com meu grupo, vi que minha vida precisava mudar. Muitas daquelas
mudanças ainda se aplicam em minha realidade hoje. Primeira lição: Corra!
“Voe”, dizia nosso mentor. “Alcoólatras devem atravessar a rua para fugir de
uma garrafa de bebida”. Em meu caso, isso significa que não posso entrar
sozinho em uma banca de jornal, ou usar sozinho um computador sem filtros de
internet.
Preciso
limitar as oportunidades que dou para a tentação. Tenho que criar um espaço que
me distancie da pornografia. Não posso me dar o direito de assistir TV sozinho.
Mesmo com filtros na internet, não uso o computador se não tiver outra pessoa
em casa. Essas restrições me aborrecem algumas vezes. Todavia, elas me ajudam
demais.
A segunda
coisa que aprendi foi a perguntar: Como posso aprofundar meu desejo por Deus e
esquecer-me dessas coisas que me fazem pecar? Alguém me disse, certa vez, que
há dois cachorros no quintal do meu coração. Um cachorro cava egoísmo, pecado e
prazer. O outro cachorro cava justiça, misericórdia, paz e obediência a Deus. Quando
acordo todas as manhãs, escolho qual cachorro pretendo alimentar. O que eu
alimento cresce até o outro não poder mais ser visto.
Preciso
alimentar o cachorro correto. Faço isso quando cultivo relacionamentos honestos
com cristãos. Tenho um amigo com quem converso de forma particular diariamente.
Falamos abertamente sobre sexo, pecado e tudo o que nos leva a pecar. Juntos,
nós buscamos formas de evitar o pecado. Nós oramos, choramos, nos ensinamos,
nos deixamos aprender.
Eu também alimento o cachorro correto ao
estudar a Bíblia em grupo. Eu não apenas a leio. Escrevo o que aprendi e o que
desejo fazer com aquilo. Passo um tempo em silêncio, esperando para ver o que
Deus falará comigo. Eu oro, adoro, sirvo outras pessoas.
Na maior
parte das vezes, o cachorro bom prevalece. Aquele terrível monstro está tão
sufocado agora que nem o vejo com tanta frequência. Contudo, de vez em quando
ele aparece. Começa a latir e logo me vejo na direção errada. Ele late muito
alto, quando não tomo cuidado em resistir às tentações. Então eu fujo. O deixo
esquecido, ignorado.
Além disso,
eu oro: “Deus, me ajude a fazer hoje o que é certo. Ajude o Tyler também.
Livra-nos da pornografia e leve-nos próximos da perfeição. Faça-nos amar mais
ao Senhor do que a nós mesmos e nos cerque com pessoas que nos façam lembrar
que tu nos amas mesmo quando erramos. Cerque-nos com amigos que sejam conosco
uma igreja que promove a vida em santidade. Mate esse cão mau e alimente o bom,
dentro de mim. Amém!”
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